23 novembro 2005

Heróis Imaginários



Nota: 7

Aos 20 anos de idade, Dan Harris já tinha nas costas um prêmio de curta-metragem e outro de roteiro. Aos 22, seu currículo já incluía o crédito de roteiro no longa-metragem X-Men 2. Atualmente, trabalha em Superman - O Retorno e tem meia-dúzia de projetos engatilhados. Pois o prolífico escritor prova que também sabe dirigir em Heróis Imaginários (Imaginary Heroes, 2004), longa de sua autoria.

A trama do filme, registrado com a competência habitual pelo diretor de fotografia Tim Orr (Contra Corrente), acompanha um ano na vida da família Travis. Ano particularmente difícil, já que começou com uma tragédia - o suicídio do primogênito, astro da natação que estava prestes a ingressar na equipe Olímpica. Sandy (Sigourney Weaver), a mãe, e especialmente o pai, Ben (Jeff Daniels), encontram-se devastados e solitários. Cada um sofre a perda de maneiras diametralmente opostas: ela busca refúgio em substâncias diversas e no sarcasmo, voltando inclusive a fumar maconha, ele simplesmente pára de funcionar, trava, se afundando em remédios e deixando o trabalho. Enquanto isso, o filho mais novo e ovelha negra Tim (o bom Emile Hirsch, de Meninos de Deus) começa a experimentar uma nova fase de autoconhecimento, disparada pela desgraça familiar, com a ajuda do estranho vizinho.

Harris cria seus personagens com boa dose de complexidade e verossimilhança. Também sabe dirigir os atores e extrai deles ótimas interpretações. Todos estão muito bem em seus papéis, especialmente Weaver e Daniels. Fazia tempo que ambos não apareciam tão bem nas telas. Mas o jovem cineasta peca ao ousar pouco, ao manter-se confortavelmente dentro do padrão esperado em produções do gênero e nas estruturas narrativas clássicas.

Seria um excelente filme se o mercado não estivesse saturado de outros exatamente como ele, com famílias suburbanas disfuncionais vivendo em bairros tranqüilos que escondem segredos. O tema é matéria-prima básica da produção cultural estadunidense cujos exemplos mais gritantes e bem-sucedidos são Gente Como a Gente (Ordinary people, de Robert Redford, 1980) e Beleza Americana (American beauty, de Sam Mendes, 1999). Isso sem contar ótimas produções européias que tratam sobre o tema como Festa de Família ou O Quarto do Filho. O filme pisa em um terreno já pisado (crises familiares) e não inova muito, mas é história é bem contada e consegue nos prender. De qualquer forma, Harris é um cineasta a ser acompanhado. Há promessa em seu talento, mas lhe falta um olhar que só se obtém com a maturidade.